Capítulo 1: Abrindo as fechaduras

Posted by Raptor | Posted in | Posted on 04:11


Hoje acordei assustado, uma rajada de vento fez com que a janela que eu deixei encostada escancarasse. É muito alto para algum morto-vivo subir, e como eles não têm muita coordenação motora e uma visão ruim, seria quase impossível eles escalarem, na hora pensei que alguém estaria invadindo para pegar água e comida, o pouco que ainda restava. Por sorte era só o vento, mas até que foi bom pensar em alguém vivo, mesmo sendo um ladrão.

Comi o último pão de manhã, estava começando a ficar mofado, a massa estava dura e o cheiro desagradável, mas não tive escolha. Agora só me restava uma garrafa pet de 2 litros com água, um pacote de rosquinhas e duas bananas. Essa comida não ia durar nem dois dias, e a garrafa pet de água poderia me sustentar por até uma semana... Eu precisava sair.

Quando chegou a hora de sair em busca de comida, fiquei muito nervoso, como da primeira vez que vi um infectado ao vivo. Duas semanas é muito tempo, quem sabe o que me espera lá fora. Da última vez que fui ao supermercado, encontrei muita gente em busca de comida, umas quinze, no mínimo, sendo que quase apanhei de três homens quando fui pegar salsichas enlatadas, que era o último alimento enlatado no supermercado.

Antes de sair eu precisava me equipar, não queria levar muitas coisas, caso contrário eu ficaria muito pesado e não ia dar pra correr dos mortos-vivos. Vesti um short jeans, era o único que eu tinha, tênis de corrida, uma blusa comum e o principal: minha mochila. Na mochila eu carregaria os alimentos, por isso não podia levar muita coisa, coloquei apenas as chaves de casa e coloquei uma garrafinha de 400 ml com água, daquelas que os ciclistas usam. Pensei em levar a lanterna, mas seria mesmo necessária? Ainda eram onze horas da manhã, porque eu levaria uma lanterna? Sendo que o mercado ficava a uns dez minutos da minha casa se eu fosse correndo. Não, sem lanterna, apenas as chaves e a garrafa d’água.

Fui até a porta da frente, abri os dois cadeados e tirei a cômoda da frente dela, nesse momento meu coração parecia subir pela garganta. Desci as escadas até a garagem, onde havia muito lixo, tábuas de madeira, lonas, pregos e um martelo. Um martelo! Eu não estava levando nenhum tipo de arma, como iria me defender se fosse preciso? Vasculhei pelo monte de tábuas e encontrei uma espécie de taco, não era como os tacos de baseball, era parecido com o cabo de uma vassoura, mas era um pouco menor, grosso e pesado. Não era bom, não queria ter que bater com aquilo quatro ou cinco vezes na cabeça de um morto-vivo, eu perderia muito tempo, precisava de algo menor e mais afiado. É claro! O machado cravado na cabeça do meu vizinho (ou ex-vizinho), George. No mês passado, eu vi pela janela dois homens passando pela rua, ambos seguravam machados, meu vizinho George já havia sido infectado e vagava pela rua, era um “cão de guarda” pronto para atacar quem passasse em seu território, e foi isso que ele fez com aqueles homens, que eram péssimos para usar um machado, estavam muito assustados. George agarrou um deles e o derrubou, abrindo o seu pescoço como se fosse uma batata cozida, mesmo assim, ele teve forças para cravar o machado em sua cabeça, matando-o no mesmo instante. O seu “amigo” pegou a outra mochila e saiu correndo, não prestando nenhum tipo de ajuda ao outro. Horas depois o homem se levantou e tornou-se o novo “cão de guarda” da rua por um tempo, até que foi embora por algum motivo, deixando o corpo de George apodrecendo ali o mês inteiro.

Abri o portão de grades da minha garagem, que também estava fechado por dois grandes cadeados e correntes enormes. Passei pela placa “Pare” e o cadáver de George estava lá, do lado esquerdo da casa, apenas alguns metros de mim, e logo adiante o fusca do Seu Tobias. Fiquei com medo dele não estar morto, mesmo vendo seu corpo imóvel todos os dias, não dava pra relaxar chegando perto do que um dia foi um infectado... Do que um dia foi meu vizinho. Abaixei-me diante da cabeça dele, segurando no cabo do machado, que não era muito grande, puxei com força e ouvi um som desagradável quando a lâmina ensangüentada do machado foi separada dos miolos apodrecidos de George. Depois de pegar o machado, dei uma olhada no coitado, sua pele parecia “colada” no osso, dava para notar as costelas se destacando na camisa suja que usava. Virei-me e senti a leve brisa batendo no meu peito, era melhor do que a brisa que vinha das janelas.

Comments (1)

Muito loko!

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