Capítulo 4: O supermercado – Parte I

Posted by Raptor | Posted in | Posted on 06:09


Fiquei um tempo parado, olhando para a porta e a tranca, obviamente eu poderia entrar atirando no cadeado, mas não queria desperdiçar balas e atrair mais mortos-vivos. Andei em volta da construção procurando algum tipo de janela ou abertura, encontrei duas janelas basculantes na parte de trás, uma delas estava bloqueada por várias caixas, a segunda, apesar de empoeirada, estava um pouco aberta e por ela eu pude ver o interior da construção, era um sala com muitas caixas, algumas delas com manchas de sangue fresco, pude perceber isso porque o sangue tinha aparência úmida. Devia haver (ou havia) alguém ali dentro, e provavelmente ferido.

A janela parecia emperrada e não consegui abrir mais para poder passar, então quebrei com uma cotovelada o vidro para que eu pudesse me espremer ali. Consegui passar segurando a mochila com as mãos. Lá dentro eu senti um cheiro forte de mofo e o cheiro que se sente quando entra em uma casa fechada há muito tempo. Olhei ao redor e me assustei quando vi um homem meio que sonolento sentado ao lado de uma pilha de caixas. A manga de sua blusa estava manchada de sangue na altura do bíceps. O sangue chegava a escorrer pelo seu antebraço até os dedos, o homem havia sido mordido, não tinha dúvidas sobre isso, principalmente depois de notar que ele suava muito e que sua pele estava pálida.

Não cheguei perto, pelo jeito ele já estava mordido há algum tempo e a transformação aconteceria logo. Ele estava tão doente que acho que não notou que eu estava ali. Passei por ele e fui à direção de uma porta entre duas pilhas de caixas, mas quando girei a maçaneta a porta não abriu, estava trancada por fora. Percebi o que estava acontecendo, o homem havia sido mordido e seu grupo o trancou ali, sem coragem de matá-lo. Eu estava com problemas, trancado em uma sala com um homem que tentaria me matar em alguns minutos. Não queria sair pela janela, não queria desistir agora, eu ainda não sabia quem mais estava no mercado e o que eu poderia conseguir ali. Pensei por um tempo e bati na porta, na esperança de que alguém do outro lado pudesse escutar.

— Oi, Paulo... Olha, já conversamos sobre isso, pensei que você tinha entendido — Disse uma voz feminina, vinda do outro lado da porta.

— Oi. Seu amigo, o Paulo, não está bem. Eu acabei de entrar pelo basculante, meu nome é Júlio, e não estou mordido. — Falei com a boca quase encostada na porta.

Foi muito bom escutar a voz de outra pessoa, fazia muito tempo que não escutava, também era bom saber que ainda tinha alguém vivo além de mim, saber que alguém ainda lutava para sobreviver. A mulher ficou em silêncio por quase dois minutos, acho que ficou assustada, talvez também não tivesse encontrado mais nenhum sobrevivente além desse tal Paulo.

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